Insónia. | FerrariChat

Insónia.

Discussion in 'Portugal' started by AlfistaPortoghese, Oct 12, 2015.

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  1. AlfistaPortoghese

    AlfistaPortoghese Moderator
    Lifetime Rossa

    Mar 18, 2014
    3,778
    Europe, but not by much.
    Full Name:
    Nuno
    #1 AlfistaPortoghese, Oct 12, 2015
    Last edited: Oct 12, 2015
    Boa tarde a todos,

    Como ontem à noite fui vítima de uma insónia infame, tive amplo tempo para redigir umas linhas que gostaria de partilhar convosco. Em abono da verdade, esta pequena ideia já tem alguns meses de idade, visto que antes de mais a partilhei com o meu querido e caro amigo Rui Gigante, ainda em forma extremamente embrionária, no início do passado mês de Maio. Entretanto a vida pessoal e profissional foram avançando, o que paulatinamente me foi impedindo de dar forma à intenção que ora exponho:

    É um facto que nós, enquanto proprietários e entusiastas da casa de Maranello, somos imensamente "favorecidos" por algo que nos aconteceu sem "input" nosso: o facto de termos nascido num país europeu, desenvolvido, democrático e seguro, onde o acesso e desfrute de serviços como justiça, educação e saúde, bem como acesso a determinados bens de consumo (uns mais básicos, outros luxuosos), derivado de imenso esforço, trabalho, sacrifício e investimento pessoais e profissionais, é um dado adquirido.

    Gostaria agora de adicionar uma partilha pessoal aos factos supra narrados: ser proprietário de um automóvel inigualável de excepção como um Ferrari nunca esteve nos meus horizontes nem em nenhuma das metas/sonhos que defini para a minha vida. É algo que me deixa extremamente feliz, é uma conquista da minha vida que me apraz sobremaneira, é parte fulcral de levar a vida com um sorriso. Não me é indiferente nem quero com o supra exposto, de forma alguma, menosprezar o facto maravilhoso, onírico e idílico de ter um Ferrari na garagem! No entanto, a minha extravagância/objectivo de vida sempre foi o de construir um hospital. Como está bem de ver, é uma empreitada para a qual não possuo nenhuma qualificação: nem pessoal (visto a minha área académica de formação nada ter a ver com a área da saúde) nem financeira (uma vez que um empreendimento desta magnitude requer vários múltiplos de cheques de 7 dígitos de uma assentada).

    Juntando à ideia anterior o infindável respeito e a incondicional admiração que nutro pelas profissões ligadas à área da saúde, com enfoque particular nos médicos e enfermeiros, cuja acção todos os dias salva vidas e contribui para o bem-estar e qualidade de vida de todos nós (que, literalmente, numa fracção de segundo podemos ser pacientes!), parece-me certo que esta acção dos profissionais de saúde anteriormente salientados é "cega": fará sempre decisivamente a diferença, independentemente do âmbito regional onde seja levada a cabo. Todavia, mais gritante é a sua necessidade em países carênciados, em regiões assoladas por conflitos armados e/ou regiões do globo paupérrimas como o continente africano e, muito em particular, a sua região subsahariana.

    Médicos de várias nacionalidades, em regime de voluntariado e com completo desprimor pelo seu conforto e próprias vidas assistem, sem medicamentos adequados, sem instrumentos apropriados, muitas vezes sem luz nem água potável, assistem pacientes locais que invariavelmente irão sucumbir a doenças tão "corriqueiras" ou inclusivamente erradicadas no mundo desenvolvido como uma gripe ou poliomielite, respectivamente. Numa simples tarde, inoculando com uma vacina cerca de 200 crianças, salvam-se literalmente 200 vidas. Falo de países como a agora denominada República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Etiópia, Sudão, Ruanda, Somália ou o Malawi.

    Uma ressalva impera explicitar: é certo que instituições como a Igreja Católica (entre outras) têm constantemente lutado para minorar na prática os problemas de monta que enunciei acima. É também certo que o Clube Scuderia Rampante se tem associado, de forma comendável, sensacional, sensível e altruísta a iniciativas oncológicas e pediátricas, tendo um profundo impacto nas comunidades locais.

    No fundo, assolou-me a gritante ponte existente entre as nossas preocupações diárias e as necessidades diárias de outros seres humanos. Cogitei igualmente, pegando na iniciativa do Clube de se associar a crianças com cancro, mudando o seu dia e as suas vidas num episódio memorável, de que forma se poderia agudizar e ampliar o raio de acção destas iniciativas repletas de humanidade.

    Por experiência própria, posso apenas afirmar o seguinte: por intermédio do meu pai, ora enfermo e aposentado, estive em África três vezes na minha vida. O meu pai, antes dos problemas de saúde que infelizmente o atormentam no presente, decidiu ir sozinho para África, em particular para a Etiópia, Senegal, Zâmbia e Zimbabwe. Uma vez lá, com a ajuda inestimável de um guia intérprete local, embrenhou-se em aldeias onde distribuiu canetas, lápis, livros, roupa e donativos a diversas organizações não governamentais sem fins lucrativos, com vista a erigir uma escola primária. Voltou com o passaporte, um par de calças de ganga e uma t-shirt. Deixou o coração em África. É uma experiência que muda a nossa vida. Não para que nos sintamos bem conosco mesmos, mas por ser algo que é certo, algo que populações precisam desesperadamente.

    Assim sendo, até porque a missiva já vai longa, gostaria de encarecidamente vos solicitar ajuda no sentido de tornar esta singela iniciativa em algo prático: ou através de uma associação a organizações como a AMI/Médicos Sem Fronteiras, através de donativos/doacções ou através da organização com os nossos Ferrari, de eventos sem fins lucrativos, onde fosse cobrado um preço simbólico pelo acesso a uma exposição dos nossos veículos e, mais tarde, a verba angariada revertesse para uma ONG da nossa escolha. De forma explícita ou de forma anónima, conforme se revelar a decisão dos associados e entusiastas. No entanto, pedindo que suportem a minha ousadia, se me perguntassem, optaria pelo anonimato.

    Uma nota final, em jeito de conclusão: a ideia que ora convosco partilho, é desprovida de qualquer motivação que não seja o equilibrar da balança, fazendo a diferença na prestação e assistência de cuidados de saúde a quem, literalmente, nada tem. Explicito igualmente que nada tenho, nem pessoal nem profissionalmente, que me prenda com quaisquer organizações. O princípio desta ideia embrionária é frontalmente inimiga de qualquer fama, publicidade, política ou lucro. Deduzo igualmente que muitos dos associados do Clube já inclusivamente contribuam nestes moldes a título individual. Equacionei apenas que, juntos, possamos fazer maior diferença. Não se trata de nenhum sentimento de culpa por ser proprietário Ferrari, nem nenhum "Complexo de Messias", nem fazer algo deste género para que nos possamos sentir melhor connosco mesmos, nem de pedir desculpa por se ter tido a oportunidade de ter uma carreira de sucesso que, felizmente, conduziu à possibilidade de se ser proprietário Ferrari. Não é caridade, ainda que esta, na minha perspectiva, absolutamente nada tenha de condenável, muitíssimo antes pelo contrário. Trata-se apenas de por côbro a dor, doença e tristeza. De ter uma chance nem sequer de se ser um empresário ou instruido academicamente, mas apenas de sobreviver. Trata-se apenas de estender a mão na forma de uma básica oportunidade de sobrevivência, ao nível das necessidades mais primárias que um ser humano pode encontrar: a sua saúde, a redução de epidemias, a redução da taxa de mortalidade infantil e os verdadeiros dramas humanos a eles associados.

    Muito obrigado pela V. atenção, as minhas sentidas desculpas pela dimensão da presente mensagem e muito obrigado igualmente pela V. paciência!

    Deixo-vos uma pequena fotografia. O meu querido e amado pai na Etiópia. Existe mais uma escola (e mais um aluno sénior!) em África! :)

    [​IMG]

    Um abraço,

    Nuno.
     
  2. jncevcosta

    jncevcosta Rookie

    Oct 26, 2013
    48
    Mesmo não sendo proprietário de nenhum cavalinha rampante, nem sendo associado do clube, estou disponível para ajudar :)

    Acho que iniciativas destas são sempre de valor e quando elaboradas como deve ser acabam sempre por ter sucesso.

    Vou acompanhar este tópico.

    Um abraço,

     

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